sexta-feira, 31 de maio de 2013

.crear


no princípio era o Verbo
coisa nenhuma
no eternamente Antes
inspirando e expirando.

em um suspiro, fez-se
música do vácuo
de uma nota e outra
o silêncio do eterno
a canção do divino.

e a música tocou
as matas, os bichos, as gentes
cada qual no seu tom
ilha coral de uma nota
só o bicho humano verbificou
Deus               se cria entre
uma palavra e um poema.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

.o caminho da vida



A vida é esse caminho que se faz caminhando, cheio de abismos, atalhos obscuros e becos sem saída. É essa travessia encantadora – e é isso o que importa na vida: saber atravessá-la. Temos direito aos esbarros, aos escorregos e aos tropeções, mas sempre é tempo de levantar e olhar para o horizonte – olha lá a utopia! O sol que nos enche de vida e se põe todos os dias. É preciso apreciar o crepúsculo e agir no lusco-fusco. É preciso saber levantar ao raiar do próximo dia.

Na vida, caminha-se com uma perna, com duas, com três. Também é preciso engatinhar, dar cambalhota e estrela. A vida é um circo, respeitável público, e é preciso coragem para saltar de um trapézio ao outro. Nela, aprende-se a andar sobre monociclo, bicicleta, triciclo, motocicleta e automóvel. Quando já se sabe andar com as próprias pernas, anda-se sobre rodas de patins ou patinete. Quando se quer sair do chão, aprende-se a se equilibrar em corda bamba ou a saltar de paraquedas.

A vida é para se locomover. Por isso há sempre acidentes. Uns são como lembretes da vida; outros são telegramas sem direito de resposta. Às vezes, o passo em falso é fatal. Às vezes, o desequilíbrio leva à última queda. E aí, pronto, acabou-se o espetáculo. Lá está a vida, quedada no chão. Já sem pretensão de ser qualquer coisa, mas garantindo o único direito que ela nos dá todos os dias: o direito à morte.

(Texto em homenagem a André Salgado)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

.autoajuda

eu não sou meu time.
eu não sou meu partido.
eu não sou minha religião.
eu não sou meu sexo.
eu não sou o outro.

eu sou você.

[.desloucamento]

mover-se, penetrar o espaço arrancar sombras espelhadas conhecer o solo, pisar forte, anunciar a queda arriscar o teu salto incerto da ...