quarta-feira, 29 de outubro de 2008

.meu não-lugar tão seu

A casa como espaço para a constante visita incômoda do anfitrião. O exílio para lugar nenhum, fugindo de lugar algum. Porque só o que há é uma passagem, nunca estadia. O ilhamento tendecioso à misantropia também tende para o nomadismo. Seu endereço são as ruas entrecruzadas e malfeitas, sem travestimento de fachada. Sem precisar pular muro, a fuga existe pela entrada principal.

domingo, 21 de setembro de 2008

.beira de mundo

para ocupar o mesmo outro poema espaço de olho em branco verso
amputado]
na fala de silêncio colorido redesconstruindo o áspero cheiro do
território cercado]
sem tempo para a escrita do nome aponta e desgasta a troca pelo
alheio rouba]
do meu espelho diálogos com os dedos perdidos balbuciam horizontes
sem simetria.]

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

.a indesejada

pousou o queixo sobre seu ombro e confessou
tá vendo esse teto
suporta o mundo que não vale nada
mas vai desabar hoje à
noite de cabeça baixa apenas
virou-se nos olhos a face duplicada da Outra
engolindo o silêncio que era mais antigo.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

olho-mágico.

unhas descascam queratina
desvendando gravuras sem perspectiva
caladas veneram carícias
deste muro que nada separa.

rala cada vértebra pontilha teu destino
lambe o concreto
fica nas pontas dos pés
escala o istmo n-dimensional.

olho-mágico cristalino
não arranha nem embaça.

domingo, 13 de abril de 2008

.here, near


, boa viagem
isso é pra você.


não não é
até logo demora
tanto sabe?
mas deve ser bom
só não
deixo estar.
talvez uma aqui. outra.
rir pra câmera
não
é pra você


meu amor?



terça-feira, 18 de março de 2008

.vinte e nove, ela disse

e era bom nós dois precipitados naquele precipício
de rede deixando um discreto espaço para o chão.
o desconforto para o reposicionamento não vale a
- pena, meu bem. melhor entranhar-se ainda mais
e desconcertar-se de vez. não tínhamos conserto.
danos irreparáveis ficam desde. até.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

.pianoforte

para Yvanna,

uma sala decorada por curiosas esculturas de livros; estantes bibliomaníacas que servem para o cochilo dos diferentes copos e taças. as bebidas alojam-se no chão mesmo, com os rótulos aquecidos pelo assoalho revestido de escuros tacos de madeira. de vez em quando giram, norteadas pelo vento ou pela vontade distraída de algum chute ou tapa dos passantes que ousam perturbar o sono do anfitrião acamado, apontando o destino de não sei o quê.

no meio da sala, sustenta-se um piano de cauda, enrolado sob um manto de poeira. não, não está esquecido pois é grande demais e obriga todos a fazerem uma trajetória única pela sala, pisando com a sola do pé somente em determinados pontos do chão – uns espaços demarcados para a performance - e arranhando as costas na parede como que respeitando a área de conservação do museu particular que guarda involuntariamente um monumento.

um piano de passado lustroso é agora somente armação sombria à cegueira cotidiana. um par de mãos mancomunadas já tentou algum exercício para reacordá-lo, mas já não há batimentos. e beliscadas não adiantam. as longas cordas, deitadas num repouso quase absoluto. parecem paralisadas, tensionadas no aguardo de um agudo que fique a soar acusticamente no silêncio reverberante, apesar das impurezas. mas as correntes de ar são cruéis demais. seus oitenta e oito anos duradouros estão espelhados, cada um, na resistência africana do ébano e nas dolorosas últimas notas opacas de marfim.

[.desloucamento]

mover-se, penetrar o espaço arrancar sombras espelhadas conhecer o solo, pisar forte, anunciar a queda arriscar o teu salto incerto da ...