[.lieblingsblume]

sobre o meu peito nu e aberto
descansas todos os desejos
enquanto nós vemos um filme
alemão em preto e branco
e nele há uma flor azul
que me escapa toda noite
mas repousa agora em teus olhos.

[.bússola]

não há tempo para demarcação

de qualquer x no mapa do tesouro

se meu coração já é um baú

aberto a sete chaves por povos

que se ocupavam de escavações

subcutâneas, dessas que ninguém vê

meus limites: sombras e vazios

e um beijo teu arremessado ao vento

atravessa as correntes de ar

perturbando a maré da minha ilha

num marulho sussurrado na pele

pra anunciar vida além do horizonte.

[.astrolábios]

não há estrutura que resista ao amor:
minha caixa torácica inoxidável
protege o que ainda há de melhor em mim
mas basta uma mirada tua - apenas uma
e tudo em mim se desmancha completamente.
viro embarcação naufragada, inavegável
balanceio-me com o quebrar das tuas ondas
no entanto, não me perco; vênus brilha em mim.

[.poderia ser uma declaração de amor]

existem pessoas que chegam em nossas vidas

num piscar de olho, quase parecendo distraído

mas é paquera séria, das boas.

ficam, permanecem num abraço apertado

sem motivos para frouxidão

de sentimento ou desejo de partida

porque a gente sabe que elas estão ali.

tudo que irrompe o habitual cotidiano

nos lembra essas pessoas

como um jardim que nasce no meio da rua

pois levam consigo um coração possível a toda flora.

e controlando o impulso de arrancar um pedacinho

para levar embora conosco

aprendemos a admirar sua existência.

de repente, pá, fazemos parte disso.

somos e admiramos a beleza

reciprocamente, ao mesmo tempo.

é assim conhecer e conviver com essas pessoas

saímos mais belos e acreditando no amor

essa espécie abundante

incompreensivelmente em risco de extinção.

[.vostok 1]

apenas tomando distância

pudemos nos maravilhar

a Terra é azul – nosso lar