A
vida é esse caminho que se faz caminhando, cheio de abismos, atalhos obscuros e
becos sem saída. É essa travessia encantadora – e é isso o que importa na vida:
saber atravessá-la. Temos direito aos esbarros, aos escorregos e aos tropeções,
mas sempre é tempo de levantar e olhar para o horizonte – olha lá a utopia! O sol
que nos enche de vida e se põe todos os dias. É preciso apreciar o crepúsculo e
agir no lusco-fusco. É preciso saber levantar ao raiar do próximo dia.
Na
vida, caminha-se com uma perna, com duas, com três. Também é preciso
engatinhar, dar cambalhota e estrela. A vida é um circo, respeitável público, e
é preciso coragem para saltar de um trapézio ao outro. Nela, aprende-se a andar
sobre monociclo, bicicleta, triciclo, motocicleta e automóvel. Quando já se
sabe andar com as próprias pernas, anda-se sobre rodas de patins ou patinete.
Quando se quer sair do chão, aprende-se a se equilibrar em corda bamba ou a
saltar de paraquedas.
A vida é para se locomover. Por isso há
sempre acidentes. Uns são como lembretes da vida; outros são telegramas sem
direito de resposta. Às vezes, o passo em falso é fatal. Às vezes, o
desequilíbrio leva à última queda. E aí, pronto, acabou-se o espetáculo. Lá
está a vida, quedada no chão. Já sem pretensão de ser qualquer coisa, mas garantindo
o único direito que ela nos dá todos os dias: o direito à morte.
(Texto em homenagem a André Salgado)
Um comentário:
texto bom demais! :)
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