[.ave-poesia]

hoje ouvi aquele verso, lembra?
tava escrito na orelha da nuvem
quando mergulhamos no céu azul
fingimos ser gente e nos amamos.
tu me olhavas cheio de promessas
eu acreditava nos teus silêncios
repousando meus sonhos no teu colo
tuas mãos afagando a felicidade.
te confessava os possíveis da vida
e mentia mil vezes sobre a morte
só pra não te roubarem o sorriso
que um dia abriu-se em ave voou.

[.tuas maçãs]

estico todo o meu braço e toco este teto

desenho imaginariamente a nossa história

infinitas vezes outra, recomeçada

enquanto a minha unha raspa o que resta

dos outros que somos nós, aqui, novamente

no parapeito do mundo que não suporta

a recriação de um paraíso outro

em que a esperança é o fruto proibido

pois a verdade reside em tuas maçãs.

[.relance]

você veio como um carnaval
talvez para me fantasiar o irreal
e virar a realidade do avesso
em busca da tal felicidade.
trazendo um punhado de brilho nas mãos
passou glitter nos meus olhos
e me fez ver colorido
quando tudo era quarta de cinzas.
de repente, sem qualquer anunciação
chegou para brincar no meu quintal
e me floresceu girassol
para acompanhar sua luz.

[.seus passos]

pôr-se a dançar repentinamente
como quem sabe, sim, como quem quer
pra agitar o corpo e acalmar a mente
dançar solto, do jeito que quiser.
sem ritmo definido, mas preciso
bailar consigo mesmo e sua canção
escrever sua verdade sobre o piso
- forró, coco, xote, frevo e baião.

[.oração]

bem em frente à igreja
o flanelinha ensaia
vozes de passarinho.

deus, que não ensinou
os homens a voar
responde em amém.