segunda-feira, 12 de junho de 2017

[.aprendiz de laços]


Logo quando pequenos devemos desenvolver nossa coordenação motora fina, e alinhavar é uma das aprendizagens deste período. É quando passamos, enfim, a amarrar os cadarços dos nossos tênis, o que nos traz uma independência formidável. A partir daí, quando nossos calçados cansam, se afrouxam e nos solicitam atenção, deixamos de depender de outrem para continuarmos nossa andança. Basta uma pequena pausa e conseguimos fazer um laço para seguir em frente. Adquirimos, pois, alguma autonomia.

Ao longo da vida, são muitas as vezes em que precisamos, para completarmos o nosso caminho, refazer os laços. No entanto, fazemo-lo quase sempre com os mesmos movimentos, os mesmos ajustes, a mesma intensidade. Por isso, há quem acredite haver uma única forma de amarrar, desconsiderando a infinidade de enlaçamentos possíveis na vida. E se horroriza se alguém de repente arrisca calçar algo sem cadarços ou mesmo decide abdicar de qualquer pisante, a fim de tocar o chão com os pés.

O Dia dos Namorados pode ser uma data para celebrarmos nossa capacidade de fazer laços, lembrando-se de que, para amar e ser feliz, não é necessário aprendermos a amarrar ninguém. O fundamental é saber enlaçar-se e desenlaçar-se, para que o amor seja sempre um pisar leve e macio – estejamos acompanhados ou não.

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